Foi no dia de São José, 19 de março, que o Papa Francisco iniciou o seu pontificado, oito anos atrás. Devoto de São José, Castíssimo Esposo da Virgem Maria, o Papa Francisco inúmeras vezes se refere ao Patrono da Igreja, com carinho filial. Fez questão de incluir o nome de São José, ao lado da Virgem Maria, nas novas Orações Eucarísticas que utilizamos nas missas, pelo mundo inteiro. E sempre que se refere à Familia, outro tema de sua preferência, sempre alude à figura de São José como protetor e modelo de virtudes, especialmente para os pais cristãos.
No último dia 8 de dezembro, apresentou ao mundo uma Carta Apostólica, com o nome de “Patris Corde” (Com coração de Pai), instituindo um ano todo dedicado a São José, em comemoração aos 150 anos da Declaração feita pelo Papa Pio IX (1870), quando São José passou a ser chamado de Padroeiro da Igreja Católica.
A carta apostólica do Papa Francisco é um primor. Um dos textos mais lindos sobre esse querido santo. Breve, porém completo. Bem fundamentado nas passagens bíblicas, todavia, em estilo simples, bem próprio de um devoto de São José, que escreve com o coração, e que quer devolver à Igreja a importância desse santo que passa despercebido, ao lado de Maria e Jesus, mas com um labor efetivo, e cuja intervenção muda o rumo da história e põe em andamento o plano divino. Vale a pena ler estas páginas, mesmo que o seu ano comemorativo já tenha começado há meses.
No dia 19 de março, portanto, celebramos a Festa de São José o Patrono da Igreja e também o protetor dos Operários e ainda, na devoção popular, o padroeiro da “Boa Morte”. Mas o Papa o quer lembrar também como pai de família e, por essa razão, escolheu esse dia para dar início a outra comemoração importante: a Exortação Pós-Sinodal “Amoris Laetitia”, completa 5 anos, desde a sua publicação, no dia de São José. O Papa pede que celebremos um “Ano da Família, Amoris Laetitia” que vai se estender até o dia 26 de junho de 2022, por ocasião do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma.
Parece muita comemoração ao mesmo tempo: dois anos temáticos que se entrecruzam e comemoração de 150 anos de um lado, 5 anos do outro, mas não há confusão porque tudo se encontra na Família: Nada mais justo que celebrar entre as realidades que envolvem a Família, o papel do pai, a figura masculina forte e terna nas relações familiares, a questão do pai adotivo, a tarefa educativa e outros temas relevantes.
“Amoris Laetitia” teve, nestes cinco anos, um trajeto brilhante e em muitos aspectos comovente. Suas intuições carregadas de compreensão e carinho para com as famílias em crise, as que vivem em segunda união, as situações irregulares, chocaram muitos ouvidos piedosos que, levados por discursos difundidos na mídia, fizeram críticas ao Papa Francisco, como se ele estivesse mudando normas e alterando costumes multisseculares da Igreja. Olhando bem, o Papa não mudou nada do ponto de vista canônico, nem em questão de doutrina. Sua proposta alterou a mentalidade de exclusão, trocando-a por uma franca e fraterna abertura das consciências para acolher a todos com bondade e sem medo de que, ao abrir as portas àqueles que necessitam de misericórdia, a própria Igreja perdesse o senso da moralidade e da expressão correta e exigente do amor.
Durante esses cinco anos, a Pastoral Familiar cresceu e se organizou em quase todas as paróquias. Buscou formação, tomou iniciativas e tem mostrado muitos frutos. Mas os bons frutos da Amoris Laetitia ainda estão longe de se esgotar. Por isso está certíssimo o Papa ao sugerir um ano especial não só para comemorar, mas para estudar, difundir esse pensamento, fortalecer e até salvar muitas famílias de um colapso visível, diante da realidade pouco favorável dos nossos tempos. E que não se pense na “Amoris Laetitia” como um documento para os casais, para os movimentos familiares, ou para os tribunais que lidam com a nulidade matrimonial. Mas que seja um documento para toda a Igreja, crianças, jovens, seminaristas, padres, casais, pessoas solteiras, viúvos e idosos, todos somos família e devemos encontrar na família a alegria do amor.
São José, reapresentado pelo papa Francisco para receber nosso afeto filial, deve nos inspirar com suas atitudes: a fidelidade e a justiça, a humildade e o trabalho, a prudência e a obediência, o acolhimento e a ternura, a coragem e a discrição. Depois de Maria Santíssima, nenhum outro santo deve ter, mais que São José, a acolhida em nossos altares, em nossas devoções, em nosso coração. Atento ao seu papel importante no plano da salvação, o povo cristão sempre se socorreu à proteção de São José, especialmente diante dos desafios mais difíceis, das decisões corajosas, do enfrentamento das necessárias carências, e das situações familiares mais delicadas. Ofereçamos, pois, ao povo cristão, nas homilias, nas novenas, nas catequeses, nas formações, um conhecimento pleno e profundo da espiritualidade lúcida e firme de São José.
Por fim, vamos lembrar a experiência que temos vivido desde março do ano passado. Foi no dia de sua Festa que as igrejas se fecharam e os fiéis se recolheram em casa. Experimentou-se de tudo, desde a convivência mais próxima da vida familiar, a experiência do aconchego e do afeto mais vivo, até o cansaço do isolamento, os conflitos e a violência, a falta da escola, da rua, do trabalho e do abraço. Um ano inteiro de reinvenção da realidade familiar e das relações de trabalho. Um ano de perdas dolorosas, desemprego e dificuldade até para rezar. E tudo isso ainda está longe de chegar ao fim. É nesse contexto que somos convidados pelo Papa Francisco que é um verdadeiro pai, a um ano inteiro dedicado ao Pai de Família, São José e um Ano da Família Amoris Laetitia, com tantas inspirações para a nossa vida e apostolado.
Dom João Bosco, ofm
Bispo Diocesano de Osasco