Recebi o diagnóstico dia 18 de março de 2020, bem no início da pandemia. Fiquei sem chão, parecia que o mundo tinha acabado para mim. Como tinha muitos tabus a respeito do câncer, senti medo de tudo: pandemia, diagnóstico, resultado de cada exame, efeitos colaterais dos tratamentos, cirurgia; enfim, medo de não dar conta, incertezas se o tratamento ia dar certo. Fiquei apavorada quando o oncólogo me disse que se tivesse metástase seria um tratamento paliativo, se fosse localizado faria um tratamento agressivo e assim foi feito, bem agressivo.
Eu não sou super mulher, heroína, precisei falar com minhas emoções, dores, medos, tristezas, frustrações… equilibrar os sentimentos. Falar com minha feminilidade: perda dos cabelos, unhas, seios, forças físicas……como foi difícil!!!. Falar das minhas escolhas: quando escolhi consagrar minha vida a Deus, tudo estava sob meu controle, (físico, espiritualidade, missionário, emoções, sentimentos…), quando a médica me propõe que é necessário fazer mastectomia bilateral, parece que tirou o controle da minha entrega. Alguém quer tirar… impor…agredir… Coloquei para fora todo sentimento: perda, medo, tristeza, insegurança, frustração, silêncio…..segurar a onda sozinha… desafiador, aceitar sem negar a dor, sinalizar tudo isto sem medo, sentir tudo isto, com fé, esperança e confiar na oração da família biológica, congregação, amigos bispos, padres, religiosos/as, leigos/as. Meus grandes pilares nesta caminhada, Jesus Salvador, Maria Imaculada e Santa Emilie.
Além do medo e da angústia que senti diante do desafio de enfrentar uma neoplasia maligna, tive que me familiarizar com termos que nunca havia escutado na vida: linfonodos, esvaziamento axilar, linfodema, quimioterapia branca, vermelha, radioterapia, cirurgia, etc.,
Os médicos despejam um monte de informações sobre a neoplasia maligna, na nossa goela abaixo.
E se limitam a explicar sobre o estadiamento da doença, os efeitos colaterais do tratamento, como será a cirurgia e todos os protocolos de tratamento que tive pela frente. Mas eles não nos dizem como é viver com uma neoplasia maligna…
E mesmo diante de toda a pressão e estresse emocional que vivi, ainda tentei seguir os conselhos de pessoas bem intencionadas e que desejavam o meu bem, mas que não têm a mínima ideia do que é ter uma neoplasia maligna.
Meus familiares e amigos, me aconselhavam para ficar positiva. Eles falavam para ter fé… falavam pra ficar positiva…, mas não têm a mínima ideia do que é viver com uma neoplasia maligna. Sentia como se meu corpo fosse uma casa mal assombrada e como não pensarmos em metástase a cada resfriado ou dor que sentia? Como parar de sentir medo a cada novo check-up? Como perder o sentimento de que o câncer, como um bicho-papão, está à espreita na próxima esquina para nos alcançar?
Como nos mantermos positivas depois que esse Tsunami passa em nossas vidas?
Me perguntava para que a neoplasia maligna agora?
Renovar em mim o sopro de vida que já, por duas vezes, Deus se manifestou: no meu nascimento e no acidente (para continuar vivendo…) e agora é preciso respirar de novo. Respirar, para continuar vivendo… respirar para purificar meu corpo, dos males físicos e emocionais. Respirar o sopro de vida que Deus quer que eu viva, como me deu gratuitamente a vida toda. E me disse ainda, tudo isto é para maior glória de Deus, como aconteceu no acidente. Não ‘perguntei por que? Mas, para quê? Para ser presença significativa em vários espaços missionários por onde passei. Quanta coisa bonita aconteceu depois disso e eu fui criar uma neoplasia maligna, para quê? Agora lute com todas as suas forças para equilibrar seu organismo e criar saúde no seu corpo físico e emocional, para erradicar totalmente as células que me prejudicam, mesmo que custe um preço alto, com quimioterapias, cirurgia, radioterapias e outras terapias curativas….
Com este mesmo gesto de coragem e entrega que fiz no dia da minha consagração, onde entreguei todo o meu ser, entrego de novo com amor cabelos, unhas, seios, forças, dores, efeitos colaterais, todo o tratamento necessário para ser curada e continuar sendo “missionária” onde quer que eu esteja, em qualquer trabalho que estiver fazendo, mas que nunca apague em mim “O ARDOR MISSIONÁRIO.”
“Jesus Salvador: nas tuas mãos coloque meu viver, foi teu amor que me atraiu e envolveu, perto de ti nenhum mal temerei? Tu disseste: O que eu fizer você também fará, ir pelo mundo espalhando amor, fui escolhida para a grande missão? Perto de Ti quero viver, habita senhor o meu ser!!!
Que a alegria da Ressurreição acalente nossos corações e nos encha de esperanças. Que o Espírito do Ressuscitado, derramado abundantemente sobre nós, nos dê a certeza de que logo estaremos juntos fisicamente para continuarmos nossa missão.
Ir. Terezinha Vandresen, CIC
Irmãs da Imaculada Conceição