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Os Cônegos Regulares Lateranenses e Santo Agostinho

O que dizer de uma Ordem Religiosa que não tem fundador? É o caso dos Cônegos Regulares Lateranenses, presente nesta diocese de Osasco desde 1947, atuando na Região Pastoral Bonfim: Vila dos Remédios, Vila Piauí e Vila Jaguara. 

Os Cônegos nasceram a partir da organização da vida primitiva do clero diocesano e fizeram a primeira experiência de vida comum no ano 345, por meio de Santo Euzébio, na cidade de Vercelli, Itália. Mas em linhas gerais, tudo começou quando um jovem inquieto e muito inteligente, nascido no Norte da África, renomado professor em Milão no ano 386, chamado Aurélio Agostinho, em um momento de crise existencial, ouviu uma voz de criança vinda de uma casa vizinha que repetia cantando insistentemente: “Pega e lê, pega e lê”. No instante em que ouviu a canção, imediatamente parou de chorar e abriu a Sagrada Escritura na Carta de Paulo aos Romanos o qual dizia: “Como de dia, andemos decentemente; não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne” Rm 13,13-14.

A passagem lida trazia exatamente a resposta que convinha às longas deliberações narradas por Agostinho acerca das tentações que o atormentavam, sem que delas conseguisse livrar-se.

Tempos depois, em uma cerimônia solene, na catedral de Milão, Itália, Agostinho, então com 33 anos, é batizado e comunga pela primeira vez. No ano seguinte, 388, regressou à África e em Tagaste, sua cidade natal, organizou uma comunidade monástica junto com alguns amigos, e passa a dedicar-se ao estudo, a oração e ao trabalho, sem ater-se a seus bens como propriedade pessoal. 

Mais tarde, em 391, o destino de Agostinho sofre uma nova reviravolta. Perdido no meio da multidão, ele ouvia o sermão do Bispo de Hipona, Valério, quando foi reconhecido e o pegaram e o ordenaram padre, e isso conduziu-o, tempos depois, ao episcopado. 

Agostinho instalou-se num local perto da igreja, e chamou os seus amigos dando assim continuidade a sua pequena comunidade monástica iniciada em Tagaste. Aos 42 anos, já como Bispo de Hipona, com a morte de Valério, Agostinho continuava decidido a levar uma vida de tipo monástico. O seu exemplo influenciou a criação de muitos outros mosteiros na África do Norte, que iriam desempenhar papel importante na vida da igreja. Dez monges saídos das comunidades de Agostinho tornaram-se bispos, e muitos outros assumiram depois o ministério sacerdotal. 

Para as comunidades, que queriam viver de acordo com o Evangelho, Agostinho pôs por escrito alguns conselhos e preceitos, que formaram o que passou a ser conhecido como “Regra de Santo Agostinho”, fortemente inspirada pelo amor, a pobreza e a humildade”

Nós, Cônegos Regulares Lateranenses, somos frutos dessa experiência vivida por Agostinho e seus amigos, mas foi a partir do Concílio Lateranense em 1059 que adotamos a Regra e o estilo de vida proposto por Agostinho como Carisma. 

Portanto, podemos dizer que “Cônego” é um religioso que tem como carisma a vida comum fraterna. Este termo deriva da antiga lista chamada de “canon” dos clérigos que viviam em comum.

No concílio Lateranense em 1059, a maioria dos sacerdotes aderiram à observância dos conselhos evangélicos. Por isso fomos chamados de Cônegos Regulares. 

A denominação “Lateranense” foi acrescentada ao nome Cônegos Regulares, devido ao serviço prestado por 500 anos aos Papas, enquanto tinham como residência e moravam na Basílica de São João de Latrão, antes da construção do Vaticano. O Papa passou assim a vestir o nosso hábito branco, unindo-se a nós em sinal de simplicidade e amor ao sagrado. 

Olhamos hoje para Santo Agostinho, o Santo da Graça e da Eclesiologia, como um orientador ativo em nossas comunidades canonicais. Desde a sua morte até os dias de hoje, ele continua vivo em cada um de nós que o reconhecemos, não como fundador, mas como legislador, dando-nos a inspiração de buscar ardentemente a Verdade, a interioridade à luz da Sagrada Escritura e da Tradição da igreja, a atenção aos estudos, a serenidade na vida religiosa, a submissão amorosa ao Sucessor de Pedro, o auxílio aos Bispos, o zelo pela igreja e o respeito à sagrada Liturgia.

E assim concluo esse artigo citando algumas curiosidades a respeito dos Cônegos Regulares Lateranenses que muita gente, nem mesmo os mais próximos, não sabem a nosso respeito: O livro mais lido e meditado até hoje, depois da Bíblia e das Confissões de Santo Agostinho, foi a “Imitação de Cristo”, escrito pelo cônego Tomás de Kempis no séc. XV. A Ordem dos Cônegos Regulares deu à Igreja 20 Papas, dos quais 10 foram declarados Santos. Um dos maiores Biblistas modernos foi o côn. Giuseppe Ricciotti, cujo livro “A vida de Cristo” foi traduzido em 40 idiomas. 

Hoje, contamos com um padre que está em Roma fazendo mestrado  em Sagrada Escritura e em Pirapora do Bom Jesus, na Cajula, nossa casa de retiro, em parceria com o Centro Bíblico Verbo Bíblico, um centro de estudos que há mais de trinta anos está a serviço do povo de Deus e do qual o padre Ray faz parte como assessor, temos um Curso de Hebraico e Grego bíblico, além de outros cursos regulares de formação bíblica, em diferentes modalidades para aqueles e aquelas que desejam fazer uma leitura exegética, comunitária, ecumênica e popular da Bíblia.  

Pe. Raimundo Aristide da Silva – CRL
(e-mail:
peray88@hotmail.com

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