Introdução
“Quem se humilha no pensamento da morte, põe em ordem toda sua vida, e está atento a tudo que o rodeia. Afasta de si a ociosidade, se anima nos trabalhos, confia na misericórdia do Senhor, e dirige o curso de uma existência vazia ao porto da eternidade” (Santo Antônio de Pádua).
O ser humano questiona-se à respeito do sentido da vida: “De onde viemos? Para que vivemos? Para onde vamos? Qual é o fim das pessoas que amamos?” Os cristãos rezam pelos falecidos e se interessam pelo seu destino. O homem é um ser para a vida, para a eternidade – “As coisas que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração humano não alcançou, essas coisas Deus preparou para os que o amam” (1Cor 2,9).
O termo “Escatologia” tem seu fundamento em “éschaton”, que na língua grega significa “último”. Também aplica-se o termo “Novíssimos”, que no latim significa as coisas “últimas”. Este tratado teológico refere-se às realidades últimas, que tratam do destino do ser humano e de toda a criação. Ajuda o homem a entender a vida e seu sentido. No âmbito individual, os assuntos abordados são: a morte, o juízo particular, o purgatório, o céu e o inferno. Temas estes que serão aprofundados nas próximas edições do BIO.
O ser humano é aberto ao transcendente, é um ser espiritual. Sendo assim, o seu fim é o infinito, o Absoluto, o próprio Deus. O fim do homem depende do que ele é. São Tomás de Aquino afirma que o ser humano é uma realidade unitária, constituída de corpo e alma. Corpo e alma se separam apenas na ocasião da morte, separação essa decorrente do pecado original: “Deus criou o ser humano para a imortalidade e o fez à imagem da sua própria identidade. Pela inveja do diabo, porém, a morte entrou no mundo, e aqueles que a ela pertencem a experimentam” (Sb 2,23-24) ou ainda “Como o pecado entrou no mundo por meio de um só homem, e pelo pecado veio a morte, assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5,12).
“Adão, o primeiro homem, tornou-se alma vivente, mas o último Adão tornou-se espírito que dá vida” (1Cor 15,45). Podemos ver o nosso futuro olhando para Jesus Cristo, a realidade última por excelência – pleno e totalmente realizado. “Jesus disse: Eu sou a ressurreição. Quem acredita em mim, ainda que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre” (Jo 11,25-26). O Ressuscitado é a nossa garantia da Vida eterna. Em Cristo, o Reino da Graça já chegou e se faz acessível para todos. “A verdade é que Cristo ressuscitou dos mortos, como primeiro fruto dos que adormeceram. De fato, já que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Pois, assim como em Adão todos morrem, em Cristo todos receberão a vida” (1Cor 15,20-22). “A Ressurreição de Cristo ilumina com uma luz nova estas realidades cotidianas. A Ressurreição de Cristo é a nossa força!” (Papa Francisco).
Com Jesus, de forma antecipada, o final do mundo já chegou para nós, todavia a plenitude somente virá com a manifestação da glória no fim dos tempos. “Amados, agora já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque nós o veremos assim como ele é” (1Jo 3,2-3). Pela ressurreição de Jesus, é perceptível a dialética do “já” e do “ainda não”. Através dos sacramentos e das virtudes teologais, podemos experimentar essa antecipação, o “já”.
“Eu garanto a vocês: Quem ouve a minha palavra e acredita naquele que me enviou, possui vida eterna, e não vai a julgamento, porque já passou da morte para a vida” (Jo 5,24). A fé nos faz participantes da vida eterna, porém a vida escatológica se encontra em nosso interior escondida em Jesus. “E com Cristo ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus com Cristo Jesus, a fim de mostrar, nos tempos que virão, a extraordinária riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 2,6-7).
“A ressurreição de Cristo é a nossa esperança” (Santo Agostinho). A salvação já pode ser vislumbrada através da esperança: “Pois na esperança já fomos salvos. Uma esperança que se vê, não é mais esperança. Quem é que espera uma coisa que já está vendo?” (Rm 8,24) e também a caridade: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem ama não permanece na morte” (1Jo 3,14).
Todavia, a plenitude das realidades escatológicas – o “ainda não” ocorrerão no último dia: “E a vontade daquele que me enviou é que eu não perca nenhum dos que ele me tem dado, mas que eu ressuscite a todos no último dia. Porque esta é a vontade do meu Pai: Quem quer que veja o Filho e acredite nele tenha vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,39-40). “Ainda não” estamos na glória, mas “já” temos essa garantia através da graça à nós oferecida.
Pe. Luiz Rogério Gemi
Curso Teológico Pastoral D. Francisco Manoel Vieira
Paróquia Nossa Senhora das Graças – Carapicuíba