Tivemos a alegria de iniciar o mês de novembro, com a XXVI Romaria Nacional da Pastoral Afro-Brasileira ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida: Mãe Negra Aparecida em Sinodalidade com a Pastoral Afro-Brasileira, casa da nossa Mãe, que acolhe em seu coração todas as dores e alegrias dos seus filhos e filhas. O canto inicial da missa do dia 05 de novembro foi a canção de Zé Vicente, que nos fez rememorar que “A missão é de todos nós… Deus chama, eu quero ouvir a Sua voz…” Por isso, unidos/as na diversidade das pastorais e ministérios da nossa Diocese de Osasco, precisamos seguir atentos/as ao chamado que nos é feito.
Essa atenção requer de cada um de nós uma atitude de busca das diversas trajetórias que nos trouxeram até aqui, nesse ano de 2.022. E um pouco de História sempre nos ajuda a iluminar essa caminhada. Precisamos de momentos que nos motivem a reflexão e nos ajudem a repensar e recriar pensamentos e posturas. Nós, católicos, já temos essa prática, quando em nossas comunidades e paróquias nos dedicamos aos temas propostos pelas Campanhas da Fraternidade, aos estudos dos Documentos da Igreja e a nossa própria Liturgia, que sempre nos exigem uma escuta atenta para uma ação cristã transformadora no mundo.
Nessa perspectiva, o dia de 20 de novembro passa a ser o Dia da Consciência Negra pela lei nº. 12.519 de 10 de novembro de 2011, a partir da mobilização de diversos coletivos e movimentos sociais, principalmente, do MNU – Movimento Negro Unificado, que desde 1970, se articularam nacionalmente para estabelecer essa data no dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares (região da Serra da Barriga, entre Alagoas e Pernambuco), foi capturado e morto pelas forças do Estado. A figura de Zumbi foi considerada como um símbolo da luta e resistência dos negros e das negras escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos na atualidade da população afro-brasileira.
Essa, mais uma data para refletir a sobre as desigualdades e as violências raciais ainda presentes, mesmo passados 134 anos da abolição da escravatura no Brasil. É um dia que conclama consciência, um chamado para vencer a indiferença, a omissão diante dos acontecimentos perante a realidade, se indignando, organizando e manifestando. Não é a pregação da supremacia negra em contraposição aos brancos ou o contrário, mas um convite extremamente necessário para o entendimento e compreensão dos problemas e complexidades que o racismo provoca em nossa sociedade, inclusive na Igreja, que para serem superados precisam do empenho de todas as organizações sociais possíveis, na construção de um país e de um mundo antirracista.
Segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a violência racial ainda é um grave problema no Brasil: sendo de pessoas negras, 78% das mortes violentas intencionais; 84% das mortes pela polícia; 67,7% das mortes entre os próprios policiais; 62% dos feminicídios e 67,5% da população carcerária do país.
Esses dados desumanos, que compõem a lógica do racismo estrutural, nos mostram como ainda temos muito que caminhar, apesar das melhorias e mudanças conquistadas, a falta de oportunidades para a população negra, o racismo presente no dia-a-dia das diversas relações sociais e as tentativas de silenciamento da cultura africana, permanecem nas nossas raízes como sociedade.
Conforme nos alerta o Papa Francisco, através da Encíclica Fratelli Tutti: “Partes da humanidade parecem sacrificáveis em benefício duma seleção que favorece a um setor humano digno de viver sem limites. Tornamo-nos insensíveis a qualquer forma de desperdício, a começar pelo alimentar, que aparece entre os mais deploráveis. Assim, objeto de descarte não são apenas os alimentos ou os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos. Além disso, o descarte assume formas abjetas, que julgávamos já superadas, como o racismo que se dissimula, mas, não cessa de reaparecer. De novo nos envergonham as expressões de racismo, demonstrando assim que os supostos avanços da sociedade não são assim tão reais nem estão garantidos duma vez por todas.” (FT, 18,19 e 20)
Segundo as palavras de Dom Pedro Cunha Cruz, bispo da Diocese de Campanha, na sua homilia, “A Igreja sinaliza, não somente para si mesma, mas para toda sociedade. Dado que a Igreja está como sinal sacramental do Amor universal e indiscriminado de Deus para todo gênero humano e é isso Ser Igreja.” Por isso devemos ter zelo e cuidado com nossas relações eclesiais, que devem se esmerar no combate a qualquer forma de racismo, que ainda possa estar presente nas nossas comunidades, pois o Amor e o seguimento a Cristo não compactuam com qualquer forma de discriminação e, assim, seremos luz para a humanidade. “A dignidade inalienável de toda a pessoa humana, independentemente da sua origem, cor ou religião, é a lei suprema do amor fraterno.” (FT, 39)
É por isso que precisamos do Dia da Consciência Negra; do Novembro Negro; da lei de preconceito de raça ou cor (nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989), das leis como a de cotas raciais, voltada para a educação superior, da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira; da PAB; dos APNs, da CNBB, das CFs, enfim, de todas as orações, movimentos, manifestações, ações de todos e todas que compreendem que ESSA MISSÃO É DE TODOS NÓS!!!
Fontes:
Missa | Santuário Nacional de Aparecida 12h 05/11/2022 – YouTube
https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-nacional-da-consciencia-negra.htm
https://www.geledes.org.br
Carta Encíclica Fratelli Tutti do Santo Padre Francisco sobre a Fraternidade e a Amizade Social.
PAB – Pastoral Afro-Brasileira da Diocese de Osasco