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Dom João Bosco celebra novena do padroeiro, no Convento São Francisco

“Com que cuidado Francisco orientou seus confrades para que dessem testemunho do Evangelho, mas não simplesmente doutrinando as pessoas ou querendo impor a fé. Mas sempre de forma simples, com breves palavras, do jeito que o próprio Jesus fez. E sempre em comunhão com a Igreja. Francisco queria que seus frades fossem fiéis à Igreja. ‘Somos apenas servos’. É por isso que o seu modo de ser, o seu exemplo, passou a ser tão importante para virar a Igreja no avesso”. Palavras do bispo franciscano da Diocese de Osasco, Dom Frei João Bosco Barbosa de Souza, frade desta Província da Imaculada Conceição, ao presidir a Santa Missa deste domingo, às 10 horas, no oitavo dia da Novena em Honra ao Padroeiro do Convento São Francisco no Centro de São Paulo.

O guardião da Fraternidade do Convento, Frei Mario Tagliari, concelebrou e saudou Dom João: “Quero, em nome dos confrades, dar as boas-vindas ao nosso confrade Dom Frei João Bosco Barbosa. Ele é da mesma terra de Frei Galvão e parente da família Galvão. Ele ficou bispo quando era pároco da Igreja da Vila Clementino”, disse o frade, pedindo uma salva de palmas. Frei Gabriel Dellandrea serviu ao altar como diácono.

Antes de sua reflexão, Dom Bosco colocou diante de Deus o nosso país, que hoje está escolhendo o futuro nos próximos quatro anos. “E numa situação bastante difícil e complicada que a gente acompanhou até aqui. Peçamos a Deus paz, diálogo, fraternidade, que a nossa Pátria encontre o caminho da esperança”, pediu.

Ele também lembrou o início do Mês das Missões. “´É importante a gente compreender que todos temos de ser missionários. E missionários a serviço da vida. Este início de outubro é dedicado à Semana Nacional da Vida. Hoje, também celebramos o Anjo da Guarda. Vamos pedir a Deus que nós sejamos muito atentos aquilo que nosso anjo nos pede, nos orienta”, disse.

Dom Bosco destacou a riqueza de oração, de formação, de aprendizado durante a Novena, especialmente este ano, conhecendo detalhes da Regra de São Francisco, que neste ano celebra 800 anos. “Essa bendita Regra de São Francisco deu tanto trabalho para ser escrita, porque a gente sabe que São Francisco não queria saber de regra. Ele dizia que a Regra que nós temos é Jesus Cristo. Basta o Evangelho. E quando ele percebeu que devia fazer uma Regra, porque tinha irmãos que queriam segui-lo, ele pegou umas frases do Evangelho e disse: ‘Nossa Regra é essa’. Santa ingenuidade. A Igreja pedia que fizesse uma Regra como os modelos que eram seguidos pelas congregações religiosas conhecidas. Mas ele queria simplesmente o Evangelho. Ele queria se vestir do Evangelho”, enfatizou o bispo franciscano.

Já que Francisco tinha que fazer uma Regra, que essa tivesse o feitio do Evangelho, que fosse uma forma de colocar em prática o Evangelho. E assim aconteceu, lembrou Dom Bosco. Depois de uma versão que não estava conforme o desejo da Igreja, foi enfim feita a Regra que “temos até hoje como referência de São Francisco e que fez com que ele, de fato, tomando o Evangelho ao pé da letra revirasse a história da Igreja”.

 

Dom Bosco explica: “Revirasse porque a Igreja que estava estabelecida naquele modelo tão imperial, tão grandioso, havia esquecido de botar os pés no chão como Francisco queria. E ele, com todo o respeito pela Igreja do jeito que ela era, queria transformá-la por dentro a partir do Evangelho. E o que aconteceu? A Regra foi sua maneira de transmitir realmente para os irmãos e para a Igreja o seu desejo de ser o Evangelho. E assim nós temos essa alegria de celebrar os 800 anos da Regra de São Francisco, que transformara a Igreja do seu tempo, 800 anos atrás”, ressaltou o celebrante.

Dom Bosco conduziu, então, sua reflexão para o Evangelho deste domingo. “A gente pode olhar para o Evangelho de hoje e ver qual é a receita de São Francisco. No Evangelho de hoje, os discípulos fazem um pedido a Jesus tão sério, tão sério, que nós deveríamos fazer todo dia. Os discípulos pedem a Jesus: ‘Senhor, aumenta a nossa fé’. E por que eles fazem esse pedido? Eles tinham conhecido Jesus, eles tinham se encantado com Jesus, mas ao mesmo tempo a proposta de Jesus era algo que virava no avesso o pensamento deles como judeus, formados na escola do judaísmo. Jesus apresentava outra maneira completamente diferente para viver a relação com Deus e com os irmãos”, explicou.

O bispo ilustrou sua reflexão com as três histórias da misericórdia de Deus, narradas no Evangelho de Lucas, e que foram apresentadas há alguns domingos, principalmente aquela de um pai misericordioso, que mesmo seu filho fazendo tudo errado, acabando com todos os bens, ele o acolhe, o abraça, não cobra nenhuma reparação, simplesmente porque é seu filho. “Imagine para os fariseus, mestres da lei, mas também para os apóstolos, formados no rigor da lei, este pai deveria castigar o filho, deveria cobrar dele o que gastou. Deveria deixá-lo como empregado e excluí-lo. Jesus apresenta Deus Pai assim, com esse tamanho de misericórdia que deixava a todos encantados, mas percebendo como era difícil”, ilustrou.

Dom Bosco continuou ilustrando com histórias do Evangelho em que Jesus inverte as coisas. “E quando os discípulos pedem: ‘Senhor, aumenta a nossa fé’, eles percebem que só a fé é capaz de nos colocar em condição de obedecer ao Senhor”, disse, falando do grão de mostarda: “Jesus está querendo dizer que essa sementinha de fé, quando vivida, ela produz uma transformação, uma coisa que parece impossível. Foi o que fez Francisco pela fé e, seguindo o Evangelho ao pé da letra, ele virou a Igreja de ponta cabeça. Isso é muito mais do que plantar uma amoreira no mar. E era isso que os discípulos percebiam quando pediam para aumentar a fé”.

“Tem uma outra ocasião que esse mesmo pedido acontece quando um pai, desesperado porque o filho estava doente, pede para Jesus que o cure, e ele diz: ‘Basta que você tenha fé’. E o homem diz: ‘Eu tenho, mas aumentai a minha fé’. Olha que pedido bonito. Nós todos temos fé, a gente cresceu numa família de fé, mas se a gente bobear, ela esmorece, empalidece, ela vira simplesmente um ritmo de vida de fazer algumas orações, de vir à igreja, mas ela não transforma mais. Francisco nos convida a ter uma fé que transforma”, ensinou.

Para Dom Bosco, uma historinha no Evangelho de hoje é outra “pedrada” nos fariseus e doutores da lei, que achavam que tinham mérito diante das coisas. “Que faziam cumprir a lei, então Deus era obrigado fazer a vontade deles porque cumpriam a lei e se achavam cheios de méritos e até disputavam quem tinha mais méritos diante de Deus. Eles acham que merecem, que são santos, mas na verdade não fazem nada disso. Jesus, então, conta essa história do empregado que trabalhava na roça e que, quando chega em casa, o patrão não tem que dizer ‘muito obrigado’, ‘você fez isso, fez aquilo’. Não, simplesmente o coloca para servir a janta e ele fica para depois. Faz tudo o que tem que ser feito, mas não se acha merecedor de coisa alguma, simplesmente porque é servo”, contou.

Para o frade, isso deve ter deixado os apóstolos um pouco “baratinados”: “Como a gente segue as normas da lei e não tem nenhum mérito? Somos apenas servos, diz Jesus, não fazemos mais do que a nossa obrigação. É uma frase dura, difícil. Porque achamos que temos méritos, fazemos uma promessa para que Deus nos dê o que a gente precisa, pedimos a Deus uma graça porque somos bons. É nossa obrigação fazer a vontade de Deus. Francisco entendeu isso tão profundamente que parece que é ele que está dizendo essa frase de Jesus: ‘Somos servos inúteis’”.

Segundo Dom Bosco, não precisamos disputar para ser melhores do que os outros. “Como a gente tem que aprender e como é necessário ter fé. Que ela cresça dentro de nós, para a gente amar sem precisar de retorno. Para a gente fazer o bem sem esperar nada em troca. Simplesmente pela alegria de servir a Deus, Como Francisco fez”, ressaltou.

Segundo Dom Bosco, Francisco cuidou de seus confrades para que dessem testemunho do Evangelho, mas não simplesmente doutrinando as pessoas ou querendo impor a fé. “Ele dizia para os frades sair, principalmente, entre aqueles que não creem, os infiéis. Vocês vão pregar dando testemunho de vida e se precisar digam algumas palavras. Mas o testemunho de vida é o melhor pregador. O frade que mais bem prega o Evangelho se chama ‘Frei Exemplo’. E isso São Francisco levou tão a sério que ele, com sua vida, foi e é ainda para nós a Regra viva. Nós celebramos o aniversário da Regra escrita. É importante, sim, porque ela nos traz presente o caminho que devemos fazer com São Francisco. Porém, ele é a nossa Regra. Assim como para ele, Jesus Cristo é a Regra do Evangelho. É a partir da fé que nós acolhemos essa Regra no coração. E podem ter certeza: nós precisamos tanto transformar esse mundo. Nós percebemos que ele cheira mal porque não tem o odor do Evangelho. É pelo exemplo, é pela fé, que nós primeiro convertemos a nós mesmos e depois o mundo. Fica esse pedido dos apóstolos para nós hoje, muito claro: ‘Senhor, aumenta a nossa fé’, porque com ela nós colamos mais ao exemplo de Cristo, a exemplo de Francisco”, completou.

Nesta segunda-feira, o encerramento da Novena, às 15 horas, terá a presença de Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM, bispo emérito de Santo Amaro. Já, às 19 horas, um dos momentos mais belos na véspera do Dia de São Francisco: a celebração do Trânsito de São Francisco. A morte de São Francisco será encenada pelos jovens da Paróquia.

 

Fonte: Franciscanos.org.br
Fotos: Site Franciscanos

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