O Papa Francisco com a sua Carta Apostólica “Patris Corde” dedicada a São José para comemorar os 150 anos como Patrono da Igreja Universal, proclamado pelo Papa Pio IX, convida toda a Igreja a fixar o olhar e o coração sobre o “homem justo” escolhido por Deus, para ser o protetor da família de Nazaré e de cada cristão. Apesar do Evangelho falar pouco dele e nenhuma palavra dele tenha chegado até nós, sua presença tem um significado particular para o momento que estamos vivendo em nossos dias, mesmo diante da pandemia do coronavírus e outras situações difíceis.
Ele é o Santo não da palavra, mas da ação, que sabe escutar a Palavra de Deus no silêncio, nos sonhos, nos acontecimentos da vida, nos impulsos do Espírito Santo e, sem discutir, a coloca em prática. Sabe decifrar os difíceis momentos da vida e busca sem cessar a vontade de Deus na cotidiniadade, feita de luzes e sombras.
A devoção e o amor a São José é uma “necessidade” ou “exigência” até na mesma Igreja na qual escutamos, muitas vezes, muitas palavras querendo dar respostas ao homem de hoje que tudo quer saber, tudo verificar e, de repente, perdeu o sentido de se deixar guiar pelo Senhor.
O QUE PODE DIZER SÃO JOSÉ À VIDA RELIGIOSA?
Se nós lermos com atenção a Carta Apostólica do Papa Francisco, podemos destacar quatros pontos importantes, que nos ajudam a viver com entusiasmo criativo a nossa consagração ao serviço de Deus e dos irmãos, com os que somos chamados a compartilhar o nosso caminho evangelizador.
Redescobrir o silêncio como escuta e diálogo. É necessário fazer silêncio, fora e dentro de nós, para poder compreender o que o Senhor quer de nós e saber entrar em diálogo de amor com todos. O Papa nos diz que São José é o Santo da acolhida: ele sabe acolher com amor na sua casa a Virgem Maria, a sua esposa, sabe acolher o mistério da gravidez e acolhe e acompanha com amor a vida da Sagrada Família, seja no Egito, seja em Nazaré. É tempo de acolher a todos os que batem à nossa porta, especialmente os mais vulneráveis, frágeis, como as crianças, os doentes, os migrantes, os sofredores…
São José mestre da oração. Sabemos como a devoção a São José foi reavivada na mesma Igreja por obra de Santa Teresa de Jesus (1515-1582). Ela tinha uma grande devoção a São José e o Papa o coloca em evidência na Carta Apostólica. A maioria dos mosteiros fundados por Santa Teresa de Jesus, tem como protetor São José, que ela considera como mestre e ecônomo. Ela diz: “se alguém quiser aprender a rezar e não tiver ninguém que lhe ensine a rezar, tome como mestre o glorioso São José e em breve tempo chegará a fazer oração em profundidade”; ou como ela diz, quando idealiza a sua comunidade religiosa: “no centro da comunidade devemos colocar Jesus, a uma porta a Virgem Maria e a outra São José e tudo ira de bem a melhor”. São José é o homem justo, meditativo, silencioso, modelo para a Vida Consagrada, particularmente neste momento de agitação e excessivas preocupações materiais, em quem devemos redescobrir a confiança na Providência de Deus.
São José homem trabalhador. O Papa Francisco evidencia São José como homem trabalhador, que ganha o pão para ele e para a Sagrada Família, com o trabalho de carpinteiro. Hoje somos chamados a procurar nosso pão de cada dia com nosso trabalho e também a ajudar os outros, pois constatamos que a maior tristeza do ser humano não é ter trabalho, mas não ter trabalho, para se sustentar e sustentar os seus. Quantos desempregados passam dificuldades! E pela porta do desemprego entra o ócio e entra a criminalidade. A Vida Religiosa deve ser exemplo de trabalho e de apoio a todos os trabalhadores,pois todos devem ter o necessário para viver como filhos de Deus e um salário justo e digno da vida humana.
São José, sombra da Sagrada Família. È muito bonita esta imagem do Papa Francisco para apresentar a vida atuante, mas discreta de São José na História da Salvação.Ele aparece no momento oportuno e desaparece no momento oportuno, sempre em silêncio; não com um silêncio passivo, mas dinâmico, onde age com amor e por amor desinteressado. Assim deve ser a Vida Religiosa na Igreja: uma vida profética feita mais de silêncio, de ação, do que de palavras. Uma presença de proteção para as famílias, um apostolado evangelizador, que vai atingindo todas as camadas da sociedade, especialmente os mais necessitados, nos lugares de fronteiras e de missão.
Muitos são os pontos que poderíamos colocar em realce, mas cada um de nós, consagrados e consagradas, pode aprofundar a Carta Apostólica “Patris Corde” e fazer dela um objeto de meditação, de retiro, de revisão comunitária durante este ano, em que o Papa Francisco quer fazer também uma revisão do documento sobre a família “Amoris Laetitia”
Uma oportunidade que não podemos deixar passar. É tempo de pandemia, de pouca ação pastoral, mas muita pastoral espiritual, de silêncio, de amor para com o nosso povo. A Sagrada Família é um modelo que nossas famílias devem imitar e contemplar, mas também a Vida Consagrada deve ser modelo de vida, numa dimensão de amor, de paz, comunhão e vida comunitária.
Frei Patrício Sciadini, ocd