O sexto dom do Espírito Santo é o entendimento. Sabemos, como foi dito anteriormente, que o dom da ciência age em nossas almas à medida em que está ordenado às criaturas que nos cercam, pois aperfeiçoa a nossa fé sobrenatural em relação a elas, tornando-nos capazes de ver a Deus em toda a criação. Ora, o dom do entendimento é distinto do dom da ciência, pois sua amplitude abarca todas as verdades reveladas por Deus. Ele torna a inteligência humana mais aguda, não apenas para compreender os mistérios de fé, mas para que o crente chegue à indubitável conclusão de que, ainda sem compreender, é possível crer em todas as verdades reveladas. A inteligência agraciada com o dom do entendimento é capaz de ver a harmonia existente entre as verdades humanas e as verdades divinas, pois umas não anulam as outras mas, ao contrário, se complementam perfeitamente segundo os planos do Criador.
A visão penetrante que o dom do entendimento nos dá não é suficiente para nos desvelar totalmente os mistérios divinos, é claro. Quando São Paulo nos lembra que “Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2, 9), ele se refere ao fato de que Deus sempre será um mistério à inteligência humana. De fato, nem mesmo os bem-aventurados, capazes de ver a Deus face a face, são capazes de compreendê-lo totalmente. No entanto, é justamente a visão penetrante causada pelo dom do entendimento que dá a firmíssima segurança de crer à alma crente. Esse fato deve nos assombrar, pois muitos dos santos mártires foram enriquecidos com esse dom antes de receberem a coroa do martírio, e muitos dos santos doutores da Igreja também foram enriquecidos com esse dom antes de receberem a coroa da sabedoria divina.
Mais ainda, uma compreensão mais profunda das verdades de fé é algo tão importante, que podemos citar dois pequenos exemplos para ilustrarmos melhor: primeiro, quem vê algo a mais na revelação cristã é capaz de confirmar a sua própria crença em qualquer ambiente, seja ele pacífico ou de perseguição (seja ela física ou ideológica); segundo, quem vê algo a mais na revelação cristã pode, ainda nesta vida, contemplar aspectos de Deus nas criaturas, algo possível unicamente pela graça divina aos santos. Esses dois exemplos ilustram a grandeza do dom do entendimento em nossas vidas, desde já.
Para que o Senhor nos dê o dom do entendimento, precisamos ter as devidas disposições para isso. A primeira e mais importante delas é a vivacidade e a simplicidade no ato de fé. De fato, quem não tem uma fé viva e simples, não é capaz de receber esse dom divino. Ter uma fé viva significa honrar aquilo que já vemos com os olhos da fé em nossas obras, como diz São Tiago: “Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma” (Tg 2, 17). Por outro lado, ter uma fé simples significa ver as verdades reveladas por Deus como elas são, e não apenas como queremos vê-las (vale sempre lembrar que o ato de fé deve ser feito com a nossa inteligência iluminada por Deus, e não com a nossa imaginação, capaz de nos elucidar em outras áreas da vida espiritual).
Com essas disposições, confiemos na graça que o Senhor tem a nos dar hoje! Peçamos a Ele que venha em nosso auxílio, especialmente em tempos tão tenebrosos como esses, em que muitos cristãos são perseguidos por causa da fé e muitos inocentes são postos no matadouro pela ação do Maligno. A fé é a vitória dos cristãos para vencer o mundo (1Jo 5, 4-5).
Santa Maria, Virgem de Pentecostes, rogai por nós!
Sem. Guilherme